segunda-feira, 8 de abril de 2013

Se a Vida fosse personificável era uma mulher.
Daquelas matreiras que ficam na esquina só a ver-te.
Acende um cigarro, deixa-o arder, recosta-se contra a parede e fica ali. Só a topar-te.
Controla todos os teus passos, mas faz-se de despercebida.
Vê-te cair nos buracos de alcatrão sujo e não se move. Nem um milimetro.
Sente um enorme prazer mórbido sempre que te levantas e limpas a poeira e o resto das folhas do Outono da cara.
Cruza os braços enquanto te vê andar pé ante pé na borda do passeio.
Decora todos os teus desequilíbrios e ri-se de cada vez que abres os braços para controlar o balanço. 
Cruza os dedos e roga-te que caias.
E tu insistes. 
E cais.
E levantas-te. 
E fazes feridas. 
E limpas o sangue. 
E cicatrizas. 
E perdes o pé. 
E cais.
E quando finalmente te ergues, decides percorrer todo o caminho de uma vez só e aproximas-te da esquina... na maior descontração ela estica o pé. 
Com a ponta do seu melhor sapato de salto rasteira-te sem dó até que oiça todos os teus ossos a partir.

Vira-te costas e segue.

Mas tu não és de ficar para trás... 
Nunca foste.

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