quarta-feira, 4 de maio de 2011

O fim do stand-by

'Duas vidas e meia depois, voltamos a ser exactamente os mesmos: Tu e eu.
E os risos, as histórias, e a cumplicidade que nunca saiu do peito, do meu.
Sem me lembrar bem dos teus traços passei-te a mão pelo rosto e abracei-te como quem abraça quem não quer ver partir. Com a força de todas as saudades que acumulei, ao longo de meses, no corpo que conhece o teu tão bem, abracei-te.
Fiz stop também no relógio e iludiste-me os longos dias que passaram.
Segurei-te a mão, só para garantir que não sairias dali, de perto, de tão perto que pudesse sentir a tua pele. Gravei o teu sorriso enquanto perguntavas assustado porque te olhava assim. Olhava-te apenas enternecida e no fundo consciente de que aquela imagem era tão fugaz e rara que a teria de respirar antes que te fosses.
Contei-te tudo o que já sabias sobre sentimentos complicados e relembrava-me o quanto gostava de ti. Em troca deixavas o teu silêncio e o som do mar. Sem saberes, dizias-me tudo com os olhos que falavam mais depressa do que movimentavas os lábios. Deixaste-me viver mais um dia de falso encanto, por pena e em em compensação de tantos outros atormentados. Voltaste às promessas, às dúvidas, às ansiedades, às esperanças... e eu acreditei. Eu acreditei com toda a força que segura o sonho e a paixão tola.'

Esperaste três dias para me matar naquela noite chuvosa.
De mim não sobrou nada. A ti desejo-te mais histórias para contar.
O amor está desacreditado. Mais um remendo com super-cola.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sentou-se na mesma cadeira de sempre e fixou as luzes desfocadas com um sorriso triunfante. Esperou e observou. E parou naquele momento. Gravou-o na memória. Então, pestanejou acordando-se e apercebeu-se que tudo se repetia. Aquele Carrossel das Chávenas era sempre igual. Rodava entre altos e baixos. As pessoas entravam e saiam quando queriam, sem lhe dirigir o olhar. Sem dar satisfações ou pagarem por voltar atrás. E de vez em quando alguém achava-se dono daquela mesma cadeira e pegava-lhe a ferros no braço. Observava-os de fora, por entre os olhos lacrimejantes, com a ira de quem lhe tirou um pertence precioso.
E não pára. Gira e continua sempre igual. Com as mesmas dificuldades nos arranques, com as mesmas demoras nos finais. Com a mesma tristeza no olhar de abandono. Mas sobretudo com uma garra desmedida e uma vontade incontornável de voltar a conseguir o lugar na sua Chávena.

Começo a encarar a minha vida como um Carrossel.
Sem música pimba.
Sem luzinhas psicadélicas.
E por favor, sem pregões trolhas!