domingo, 25 de abril de 2010

A cegueira rouba-nos a sensatez. A ansiedade rasga-nos o orgulho. O desespero quebra o nós em dois. É estranho que passemos a ser estranhos quando, no fundo, nunca deixamos de o ser. Mas é mais estranho ainda que tudo aconteça sem aviso. A desilusão desgasta o coração, como as pedras batidas pelas ondas. E cansa. E dói. E mói. Mas não mata. Não matou antes, não agora, e provavelmente nunca.
Sou arrastada nas teias que te demovem da vontade de seguir em frente. Vou nessa maré de angústia e indefinições que criaste. E acordas um dia, Nero, e decides que o mundo tem de arder. E proteges-me como me matas. E deixas-me presa nas tuas palavras, nas minhas lágrimas, nas nossas esperanças... Queimas um futuro, em troca de um sabe-se lá. E eu espero. E os dias passam. E a saudade aumenta, e com ela a indiferença.
E um dia acordas, Fénix, e decides voar e rumas por caminhos novos... mas ardidos...

E deixas-me sozinha nas cinzas quentes que decidiste atear.